Cinemas (Pres. Prudente - SP)


Áureos tempos dos cinemas
Antes de a "Síndrome do Cinema Paradiso'', uma alusão ao filme do cineasta italiano Giuseppe Tornatore (cuja temática gira em torno do fechamento de uma casa de cinema) atingir as cidades da região, Presidente Prudente era um verdadeiro paraíso para os cinéfilos.
Em "Cinema Paradiso'', Salvatore Di Vitto, era um importante realizador de cinema que recebe a notícia de que o Alfredo morreu. Bastou este nome para o levar à vila onde nasceu, um pequeno burgo na Sicília, onde o Cinema Paraíso e a figura de Alfred, o projeccionista, eram a paixão de Salvatore, Totó em pequeno. Totó nunca o deixava e guardava na caixa os beijos e abraços proibidos que a censura da época cortava das fitas. Mas o Cinema Paraíso pegou fogo, foi reconstruído e acabou por ser demolido para dar lugar a um parque de automóveis. O filme é estrelado por Philippe Noiret, Jacques Perrin, Antonella Attili, Pupella Maggio e Salvatore Cascio.
Os cinemas da região entraram em decadência com o advento da televisão e do vídeo, e, mais recentemente, com os DVDs.
A inauguração da televisão brasileira se deu em 1951, quando Francisco de Assis Chateaubriand, proprietário dos "Diários Associados", cadeia de jornais e emissoras de rádio, importou a "parafernália" necessária para as transmissões, incluindo os televisores. Foram importados 300 aparelhos, vendidos em uma única loja.
Alguns meses depois da estréia da TV Tupi em São Paulo, precisamente em 20 de janeiro de 1951, houve o início das operações da TV Tupi do Rio de Janeiro.
Mas foi na década de 60 que houve uma "explosão" de vendas de aparelhos de televisão.
Já na década de 70 a TV começa a tomar forma e a conquistar a importância atual, o que vem culminar com o início do fechamento de várias salas de cinema, que acaba se concretizando nos anos 80.
Em Presidente Prudente, desde os anos 40 os amantes da sétima arte tinham onde ir, antes ou depois dos famosos passeios de footing que costumavam fazer na praça da Matriz. Podiam escolher entre o Cine João Gomes, Cine Presidente, Cine Fênix, Cine Coral e Cine Ouro Branco.
Mas apesar da televisão, do vídeo e de outras preciosidades tecnológicas, o cinema ainda tenta resistir, agora muito mais sofisticado, e ainda continua atraindo cinéfilos de todas as idades, mas sem o glamour de antigamente.
Cine João Gomes
O cinema mais antigo de Prudente que se tem notícia é o Cine João Gomes. Este cinema funcionava onde, em 2003, está instalada a Mega Loja Ofertas, no Calçadão da Maffei, centro da cidade. Na época a rua não era calçadão para pedestres; ainda era utilizado por veículos e houve um tempo em que o sentido de tráfego se dava da Praça da Catedral para a Praça da Bandeira. O prédio mantém até hoje o local onde estava instalada a tela de exibição. Aliás, as pinturas nos painéis sobre os filmes que eram exibidos na época também se traduziam em uma atração à parte. Ainda não havia outdoors. No local onde hoje está o prédio da Caixa Econômica Estadual não havia imóvel. Ali e um pouco mais adiante do prédio onde funcionava o Cine João Gomes eram instalados painéis com desenhos dos filmes. "A gente ficava observando o pintor fazer os desenhos e tentando adivinhar a imagem do filme que ele estava pintando'', diz o professor de inglês prudentino Abdala Avelaneda Nader, 52, um especialista em cinema. "Os pintores pintavam o filme na madeira e um dos pintores, se não me engano, era boliviano. Eram pintados com uma semana de antecedência de exibição do filme. Um dos cartazes mais bonitos da época é do filme `Reis do Sol', com Yul Brynner. Lembro-me também das balas de café que eram vendidas nos cinemas e que eram uma coqueluche na época'', acrescenta o professor, que se recorda ainda da pintura do filme `Sansão e Dalila', com Victor Mature e Hedy Lamaar, filmado em 1950 e projetado em Prudente nos anos 60.


O Cine João Gomes, fundado nos anos 40, foi uma febre para os cinéfilos nos anos 60 e 70. "Naquela época foi o cinema de maior lazer, pois as pessoas saíam de lá e iam fazer o footing na praça.
Ao lado do Cine João Gomes existiam bares famosos como Shoyama, o Cruzeiro e o Oásis'', recorda Abdala, que de 1974 a 1990 manteve uma coluna sobre cinema no jornal "O Imparcial'', de Prudente, cujo editor-chefe era o jornalista José Luiz Zana.
O Cine João Gomes durou até o final da década de 70. "Os maiores sucessos do cinema passavam no João Gomes'', afirma Abdala. Ele lembra, por exemplo, do filme "O Mais Longo dos Dias'', com John Wayne, e a série de "Planeta dos Macacos'', com Charlton Heston. "Spartacus", com Kirk Douglas, filme original de 1960 mas que foi exibido em Prudente em 1962, no Cine João Gomes, foi outro recorde de público. "Todos os filmes mais importantes dos anos 40, 50 e 60 foram exibidos no Cine João Gomes'', comenta Abdala. "O Cine João Gomes tinha uma vantagem: Às segundas, terças e quartas, era exibido um tipo de filme; às quintas e sextas, outro filme; e aos sábados e domingos, outro filme diferente. Aos fundos do Cine João Gomes morava o "Seo'' Nico, que foi o maior funcionário de cinemas. Era operador de som e chegou a ser gerente. Trabalhou no Cine João Gomes e no Cine Fênix'', conta Abdala. O professor lembra ainda que o "Seo'' Nico, falecido há quatro anos, costumava contar que o melhor filme que havia assistido no Cine João Gomes era "Primavera'', um musical de 1937, com Janete Mc'Donald e Nelson Ed.
Cine Presidente
O Cine Presidente, que funcionava em frente onde atualmente está instalado o Aruá Hotel, atingiu seu auge nos anos 70. Possuía 1.200 lugares na parte de baixo, sendo que 600 lugares ficavam na parte superior do prédio, cujas cadeiras eram mais macias e custavam mais caro. Hoje, nos anos 2000, está sendo construído um prédio residencial no local.
Em meio as obras do prédio que ergue-se imponente, ainda resistem numa das paredes os azulejos do banheiro do Cine Presidente. Os azulejos são apontados com saudade pelo jovem comerciante Renato Manfrin, 25, que assistiu ali a exibição do filme "ET - O Extraterrestre'', de Steven Spielberg, com Drew Barrymore. Era começo dos anos 80 e Renato estava com cerca de quatro anos de idade. "Lembro-me que na época não existiam trailers de filmes e sim de futebol do Rio de Janeiro. Lembro-me também que exibiam cenas do Zico''. Décadas antes, precisamente nos anos 60, era o pai de Renato, o aposentado Dionísio Manfrin, quem costumava freqüentar o Cine Presidente. Era lá que ele namorava a futura esposa Maria Rosalina de Aguiar Manfrin.
Dionísio lembra que, em 1966, quando estava com 27 anos de idade, assistiu no Cine Presidente ao filme "Trapézio'', com Burt Lancaster, Tony Curtis e Gina Lolobrigida. "Os anos 60 aqui foram bom demais'', recorda-se Dionísio, enquanto mostra com o filho Renato onde funcionava o banheiro do Cine Presidente. Dionísio lembra ainda que um dos filmes mais bonitos que assistiu no local foi "Amor da Tarde'', por volta de 1958/1960, com Audrey Hepburn e Gary Gooper. "Foi um dos filmes mais bonitos da minha vida, e a música-tema também era linda'', comenta. Um outro filme visto por Dionísio no Cine Presidente foi "Os Dez Mandamentos'', com Charlton Heston.
O professor Abdala Nader, ele mesmo um assíduo freqüentador das salas dos antigos cinemas de Prudente, relembra com nostalgia os velhos tempos do Cine Presidente, que também chegou a sediar no final dos anos 70, show do cantor Caetano Veloso, no auge da Tropicália. O comediante Amácio Mazaropi - o famoso "Jeca Tatu", também se apresentou no Cine Presidente.


"O Cine Presidente, nos anos 50/60, era o maior cinema do Estado de São Paulo'' , lembra ele. "Muita gente namorou na sala deste cinema e se casou'', completa Abdala. Ele mesmo namorou muito sua então futura esposa Luiza Maria Carlos Nader, 40, com quem teve os filhos Alessandra, 19, e Abdala Elias, 7. Abdala e Luiza Maria começaram a namorar em 1981 e casaram-se em 1984. Segundo Luiza, o filme mais belo a que assistiu na época foi `Amor sem fim' (Endless Love), com a então menina Brooke Shields e Martin Hewitt, que passou em 1982. "Neste filme havia um ator que estava iniciando a carreira e que hoje é famosíssimo, o Tom Cruise'', destaca Abdala.
Segundo Abdala, o Cine Presidente ficou 15 anos isento de imposto predial, que era bem caro na época e o prédio era muito grande. A Empresa Pedutti era a responsável pelo cinema. A Pedutti também tomava conta dos cines João Gomes, Fênix e Coral.
Segundo Abdala, o filme que mais lotou a sala do Cine Presidente foi o épico "Ben-Hur'', com Charlton Heston. "'Ben-Hur', numa segunda exibição aqui em Prudente, nos anos 60, lotou todos os 1.800 lugares do Cine Presidente'', conta Abdala. Ben-Hur, uma produção norte-americana de 1959, é também considerado um dos recordistas de Oscars recebidos, tendo levado 11 estatuetas, tendo empatado com "Titanic'' (1997/1998), de James Cameron, e estrelado por Leonardo Di Caprio, Kate Winslet e Kathy Bates, que, quando aqui foi lançado, arrastou multidões ao cinema do Prudenshopping. A mesma coisa aconteceu com "Dança com Lobos'', que durante dias presenciou filas gigantescas que se formaram diante do cinema para ver o filme com Kevin Costner.
Outros filmes atraíram público ao Cine Presidente como "Dio como ti amo", com Gigliola Cinquetti e Mark Damon. O filme passou em Prudente em 1966/67.
Cine Phenix - Cinerama
O Cine Phenix era outro point famoso da juventude dos anos rebeldes 60. Este cinema funcionava na rua dr. José Foz, 554, onde hoje está instalada a Casas Bahia. O Cine Phenix foi fundado em meados dos anos 40, mas sua efervescência se deu mesmo nos anos 60. "O Cine Phenix funcionava num prédio velho e dentro havia colunas que atrapalhavam a visão da tela. Dentro também havia uma espécie de poleiro (tipo de palco), que proporcionava uma outra visão da tela. Tempos depois o prédio passou por uma reforma e aí veio o auge'', lembra Abdala.
"O Cine Phenix passou a ser cinerama, que consistia em tela ampla de 35 mm e cujo som literalmente seguia a ação do filme, coisa que só existia nos cinemas das grandes capitais. Foi o único cinerama do interior'', conta Abdala, ressaltando que o sistema cinerama se desenvolveu nos Estados Unidos em 1939 e surgiu pela primeira vez em Nova York em 1952.


Segundo Abdala, o primeiro filme a ser exibido no Phenix pelo sistema cinerama foi "Khartoum'', com Charlton Heston. O filme foi produzido em 1966 e exibido em Prudente em 1970. "Para assistir ao filme à tarde tinha de pegar o ingresso antes. Havia na bilheteria uma tábua com os números de todos os lugares das poltronas.
Os ingressos tinham de ser reservados e pagos antes'', comenta o professor. "Modéstia à parte fui o primeiro a reservar o lugar para ver `Khartoum''', orgulha-se Abdala. Ele recorda ainda que o filme que mais usou a febre do sistema cinerama foi "Conquista do Oeste'', estrelado por um super elenco, e entre os atores, estava James Stuart. Produzido em 1963 esse filme passou no Phenix nos anos 70.
O professor conta que é apaixonado por cinema desde os nove anos de idade. E garante não ser uma frustração de não ter se tornado ator. "É paixão mesmo. O cinema é a minha vida; afinal, são quarenta e três anos'', acrescenta ele. "Peguei uma época que só tinham cinema e futebol, e a TV só foi surgir em Prudente em 68/69'', diz Abdala, que hoje dá aulas de inglês na Escola Estadual Fernando Costa, antigo Instituto de Educação (IE). "Talvez na outra encarnação eu fui um ator'', brinca o professor, que em Prudente foi o primeiro a assinar o canal fechado Sky, em 1977. Atualmente continua indo ao cinema, assiste a vídeos, mas diz que sente muita falta daqueles tempos.
Abdala conta que já assistiu a 17.000 filmes e que possui um dos melhores banco de dados sobre cinema, incluindo biografias de atores e atrizes, além de curiosidades. "Tenho tudo marcado em livro, sem internet'', ressalta ele. Possui ainda 500 livros importados sobre cinema e três livros sobre o assunto ainda não editados.
Entre os títulos que possui, Abdala cita clássicos da sétima arte como "My Fair Lady'', com Audrey Hepburn; ``Fany Girl´´ (Garota Genial) com Barbra Streisand; e "Noviça Rebelde'', com Julie Andrews; além de "Batalha no Inferno'', com Charles Bronson.
"Melancolicamente, com a chegada do vídeo a Presidente Prudente, que se transformou numa febre nos anos 80, o cinerama caiu muito e foi obrigado a fechar'', diz Abdala, que na época chegou a escrever sobre o assunto num jornal da cidade. "Lembro-me do senhor Nico tirando as cadeiras e os equipamentos do cinema, que foram levados para uma cidade da região e lá ficaram jogados'', lamenta o professor, que fala sobre o fato emocionado.
Cine Coral
Era quase obrigação na época que os cinemas funcionassem no centro da cidade. Mas surgiu um que fugiu à regra, nos anos 70. O Cine Coral existiu no começo do bairro Jardim Paulista, indo em direção do Ginásio de Esportes. "Mas por problemas de distância não deu certo. Entre os filmes que exibiu está `Chisum', com John Wayne. Mas este cinema foi um fracasso e acabou fechando'', conta Abdala.
Cine Ouro Branco
Havia em Presidente Prudente um cinema que fazia frente aos comandados pela Empresa Pedutti. Era o Cine Ouro Branco, que funcionava na esquina das ruas Siqueira Campos e Rui Barbosa, próximo as instalações da Telesp. O prédio mantém-se do mesmo jeito até hoje. Está vazio, à espera de ser locado para alguma atividade.
"A inauguração do Cine Ouro Branco era para ser feita durante o governo do prefeito Florivaldo Leal, em 1965. Mas no dia da inauguração, que contaria com sua presença, ele foi morto. Por essa razão, a estréia ocorreu dias depois'', lembra o professor Abdala, que estava lá no primeiro dia de exibição. "O primeiro filme que foi exibido no Cine Ouro Branco foi 'Rolls-Royce Amarelo', com Ingrid Bergman e grande elenco''.
Abdala comenta que o auge do Ouro Branco foi nos anos 60 e 70. Nessa época o cinema exibia os famosos filmes de faroeste italiano. "Para ver os filmes de bang-bang eram filas e mais filas'', recorda Abdala. Entre os filmes de faroeste o professor cita "Dólar Furado'', com Giuliano Gemma; "Django'', com Franco Nero; e "Vou, Mato e Volto'', com Lee Van Cleef.
O Cine Ouro Branco foi o último a encerrar atividades em Presidente Prudente, em 1988. Antes, porém, o Ouro Branco também teve seus dias de glória e entre os filmes que mais atraíram público estão os da série 'Rock - um lutador', com Silvester Stalone, e 'Sociedade dos poetas mortos', com Robin Williams, este último, exibido no final dos anos 80. O filme `Sociedade dos poetas mortos' lotou em todas as sessões.
O senhor Nelson Pereira foi um dos gerentes de cinema mais populares de Prudente. Por longos anos ele gerenciou o Cine Ouro Branco, que mantinha um convênio com o Cine Marrocos, de São Paulo, para exibir simultaneamente os lançamentos. "Presidente Prudente teve grandes gerentes de cinema. O primeiro foi o 'seo' Alcides, que trabalhava no Cine João Gomes, mas também tivemos o senhor Laperuta, que trabalhava no Cine Presidente e nos três cinemas. O último foi o 'seo' Nelson, que foi gerente do Ouro Branco. Não podemos esquecer do 'seo' Nico, que foi o mais importante funcionário do cinema em Prudente. Ele começou e trabalhou a vida inteira no cinema até se aposentar. Ele também foi gerente mas o seu forte era ser operador de som'', frisa o professor Abdala.

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1. Arquivos institucionais e privados

Bibliotecas da Cinemateca Brasileira, FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Mackenzie.

2. Principais publicações

Acervo digital dos jornais Correio de São Paulo, Correio Paulistano, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo.

Acervo digital dos periódicos A Cigarra, Cine-Reporter e Cinearte.

Site Arquivo Histórico de São Paulo - Inventário dos Espaços de Sociabilidade Cinematográfica na Cidade de São Paulo: 1895-1929, de José Inácio de Melo Souza.

Periódico Acrópole (1938 a 1971)

Livro Salões, Circos e Cinemas de São Paulo, de Vicente de Paula Araújo - Ed. Perspectiva - 1981

Livro Salas de Cinema em São Paulo, de Inimá Simões - PW/Secretaria Municipal de Cultura/Secretaria de Estado da Cultura - 1990

Site Novo Milênio, de Santos - SP
www.novomilenio.inf.br/santos

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Periódico Acrópole - Fotógrafos: José Moscardi, Leon Liberman, P. C. Scheier e Zanella.

Fotos com publicação autorizada e exclusivas para o blog dos acervos particulares de Joel La Laina Sene, Caio Quintino,
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